sábado, 10 de fevereiro de 2018

NESSA HORA


Atrevido, ris de longe, para dentro dos meus olhos
mal desconfias, suspeitas e me pressentes  
à ombreira da minha porta entreaberta.
Sei de cor o inevitável reboliço do teu corpo
do desatino e desalinho do chão
sob os teus passos famintos, com pressa 
pois vens com o sol todo do firmamento no olhar.

Nessa hora, prontamente, somos bocas impiedosas
que se mordem e se esmagam
botões, tímidos, assaltados e rebentados
seios livres, à solta, para serem alimentados
entre as tuas insaciáveis mãos.
Língua com língua, nesta ansiedade
dissolvo na tua boca um silêncio adocicado 
que incita a pele a destrambelhar-me o ventre
já excitado e acamado, engrandecendo-se
numa luxúria e tertúlia, de que só nós propiciamos.

Que nos importam estes, esses, os outros, aqueles
se no interior de nós há luz própria, e tanta
sob a forma de pirilampos secretos e mágicos.
Cá dentro, arrebatados, demolimos paredes
que, puritanas, se envergonham
da desorientação dos nossos corpos suados
gemendo em labaredas rubras, tórridas de paixão.

Vem! Dou-te colo. Exijo-te em mim. Abre-me toda!
Volta-me, ziguezagueia-me, descoordena-me 
transpira-me no teu corpo tenso e teso
em espasmos e convulsões de amor
e não pares, e não pares, antes, verga-me!
Rasga-me e verte-te em mim
da forma menos habitual e racional
como se fosses rio devastando margens e foz
e eu, sem sequer, me lembrar e importar
se a minha porta, a entreaberta, se fechou.
Quero lá eu saber disso, agora!
Estamos dentro um do outro, e é isso que importa.


CÉU

O MUNDO PASSA POR AQUI