domingo, 7 de janeiro de 2018

VIAGENS

Tal como tanto me pediste e quase suplicaste
naquele dia, que nunca esquecerei
vesti o meu vestido branco
o mais leve, doce e transparente de todos
e fui contigo ver nascer o sol.
Logo que lá chegámos, despi o vestido
lançando-o ao vento leve, que se fazia sentir
e permiti que a luz afogueada
cobrisse de beijos voluptuosos e húmidos
todas as constelações da minha pele
que linda e louca, se pôs a jeito
para receber as tuas mãos, por inteiro
que, já em espera e agitadas, se alvoroçavam.

Consenti que o cheiro e o sabor da minha carne
temperassem a tua boca
que ansiosa, esfaimada, buscava o alimento
o único, que a sossegava e saciava.
Libertei o meu corpo alagado
em forma de ribeira mansa, quase deusa
e preenchi de juras e bênçãos
essas tuas mãos, que somente em mim
descobriam roteiros íntimos
de todos os acessos e desconhecidos caminhos
que conduziam à mais desejada Índia
até que os cabos, ventos contrários, correntes
nos esgotassem e consumissem. Ó bendito cansaço!

E logo depois, meu amor, repousámos e sonhámos
enquanto o meu vestido branco
o mais alvo, dado, leve e apelativo de todos
o que mais te chamava e excitava
e que tanto gostavas de apalpar e acariciar
enfeitasse a orla dos meus contornos
somente na tua imaginação
pois, querias-me desnuda, em pele
para te realizares, bem à-vontade, em mim
até que eu me desse por vencida
concretizando-se a fundição dos nossos corpos
que, aliviados, sem preconceitos e satisfeitos
seriam poente, que sorrateiramente, se ausentava.


CÉU

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