sábado, 28 de novembro de 2015

SENTENÇA LIDA

Vem, querido, sem hesitares, e caminha até mim
percorrendo a passadeira ávida e lenta
com passos desatentos, decorados e sedentos
deixando-te acariciar por ela, sem pensares 
enquanto o seu veludo tudo fará para nos entrelaçar.
Estou cá em cima, no alto, no tal sótão sem asfalto
em calma aparente, que bem represento
no papel de mulher desprezada e mal tratada
tal como Cinderela formosa, no anonimato
à espera do seu Príncipe encantado, tão esperançada!

A cobrir-me o corpo desesperançado, imaculado e nu
um rubro manto de cetim dócil, como tu
embebido em aromas e elixires de mim e de ti
que nos prolongarão as capacidades 
com mãos celestiais, doando-nos a eternidade.
Nos cabelos escuros, lustrosos, pus flores brancas
nos olhos, uma venda de seda negra, quente
a condizer com os sapatos alarmados e espantados
onde repousavam os meus pés, abrigados
que lembravam o meu lado irracional, de mulher fatal.

Caminhando e deslizando de forma branda, que espanta
chegaste ao cenário desejado e combinado
retiraste-me o manto com carinho e devagarinho
que, talvez, tivesse pertencido a uma deusa
e debruçaste-te sobre o meu corpo, já em rebelião.
É nele que te vais eclipsar, aliviar, desenfreado
observando-o, mais uma vez, com o olhar transtornado
aliançando os teus dedos nos meus cabelos
colocando-te de joelhos em prostração e veneração
afagando-me depois o corpo inteiro, louco, já em ebulição.

E entraste desmandado nele, sem me pedires permissão
ouvindo-se os ecos das emoções, sensações
indicando que a nossa peça estava quase a começar
e os nossos corpos agitaram-se, em preparação
esquecendo tu, dicas de encenação, tal era a convulsão!
O teu olhar aberto, terno, entregou-se ao meu 
que cedeu, sem quês nem porquês, inteirinho ao teu
enquanto me lambias o pescoço, com consolo
de tal maneira, que me puseste a carótida, a pular 
numa algazarra, aos saltos, ai quem a conseguia agarrar!

Para com isso, querido! Já não aguento tantos arrepios
que me excitam, eriçam da cabeça aos pés
e por mais impávida que me mostre, sou o oposto
sou vulcão que dorme, e abrupto explode no teu corpo
jorrando lava, tórrida, desalmada, descontrolada.
Esta é a minha deixa, que como podes ver, não é teatro
mas a representação dos afetos, sem orientações
onde pratico o voluntariado, consciente, sem questionar
mas agora sou eu quem te vai desconcentrar
desejando eu ver a tua atuação, para depois tirar ilações.

Palavras leva-as o vento. Quero apreciar o teu desempenho
nos sentimentos, para te avaliar com muito rigor
visto que, em Paixões da Alma, sou Mestra, Doutorada
exigindo-te apenas verdades. Nada me escapa.
Se observar artificialismos, reprovar-te-ei, sem hesitar
não te permitindo transitar para a vida
pois foste adulteroso, mentiroso, ao não respeitares o Amor.


CÉU

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